A história da humanidade é marcada por uma busca incessante: eliminar o sofrimento. É compreensível, afinal, quem gostaria de enfrentar a dor, a angústia ou a incerteza? Essa busca, contudo, transcende o indivíduo. Está enraizada em uma cultura que rejeita o desconforto, que vende a promessa de felicidade instantânea e soluções rápidas como se a dor fosse uma anomalia a ser corrigida, e não uma expressão do que significa estar vivo.
Vivemos em uma sociedade que opera em disparidade com nossa condição humana natural. A velocidade do mundo moderno, a glorificação da produtividade e a exigência de constante performance nos afastam do que é essencialmente humano: nossa vulnerabilidade, nossos ciclos, nossas imperfeições. Essa cultura nos ensina que o sofrimento é um erro, uma falha pessoal, algo a ser corrigido com esforço ou superado com um diagnóstico e tratamento que devolvam rapidamente a funcionalidade.
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), como abordagem transdiagnóstica, confronta essa perspectiva. Ela nos lembra que o sofrimento não é um desvio do caminho, mas parte integrante da jornada. Quanto mais tentamos apagá-lo, mais ele se intensifica, como um grito ignorado. E, nesse esforço para eliminá-lo, nos tornamos ainda mais desconectados de nós mesmos e dos valores que tornam a vida significativa.
A ACT nos convida a desafiar o paradigma cultural que enxerga a dor como inimiga. Em vez de lutar contra ela, podemos aprender a nos relacionar com ela de forma mais sábia, acolhendo-a como parte do mosaico humano. Essa mudança de perspectiva é, por si só, um ato de resistência: resistir à lógica de uma sociedade que nos pressiona a estar sempre bem, sempre fortes, sempre em controle.
Talvez o verdadeiro desajuste não esteja no sofrimento humano, mas em uma cultura que nos faz acreditar que sentir dor é o mesmo que fracassar. E se, em vez de negá-la, pudéssemos viver com ela, ainda que incompletos e imperfeitos, mas profundamente conectados ao que importa? Afinal, não é a ausência de sofrimento que define uma vida plena, mas a coragem de caminhar com ele, em direção ao que dá sentido à nossa existência.
Não é sobre “estar bem o tempo todo.” É sobre viver de forma plena, mesmo com as imperfeições e os desconfortos de ser humano.
Então, se pergunte: o que você está disposto a viver, mesmo que doa?
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